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Potência e consumo do motor dependem diretamente do bom estado das velas e dos cabos de ignição; veja dicas das fabricantes para o diagnóstico e a aplicação das peças

Em tempos de combustível caro e motores cada vez mais exigentes, o mecânico tem que avisar o cliente de que uma manutenção preventiva bem feita, de acordo com os prazos determinados pelo manual do veículo, pode gerar uma baita economia lá na frente. Quando estão em bom estado, as velas de ignição e seus respectivos cabos influenciam diretamente no desempenho do veículo, fal zendo com que a queima da mistura ar/combustível dentro dos cilindros seja a mais eficiente possível, gerando a força para a qual o motor foi projetado sem consumir e emitir poluentes mais do que o necessário.

“A influencia do sistema de ignição é ainda mais crítica nos novos motores alimentados com injeção direta, que operam com misturas muito pobres no modo extratificado”, explica o técnico de ensino do SENAI Vila Leopoldina, Fernando Landulfo.

Mas quando o sistema de ignição tem algum problema, a queima da mistura deixa de ser “perfeita” e o motor começa a pedir mais combustível para gerar a mesma potência de antes. Resultado: marcha lenta irregular, falhas nas retomadas, perda de potência , aumento de consumo e emissão de poluentes, por melhor que seja o combustível utilizado.

“A falta da manutenção nos componentes do sistema de ignição pode comprometer a qualidade da faísca produzida e comprometer outras peças, dificultando a qualidade da queima da mistura ar/combustível na câmara de combustão do motor. Estes problemas podem ocasionar um aumento do consumo de combustível e do nível de emissão de poluentes”, declara o chefe de Marketing do Aftermarket Automotivo da Bosch, Breno Cavalcanti.

Além de poder ser a causa de mau funcionamento, velas e cabos também servem como porta de entrada para o diagnóstico da saúde do motor, já que pode revelar outros problemas inicialmente não relacionados com o estado de suas peças. Por isso, é imperativo que o mecânico conheça o sistema a fundo, sabendo como diagnosticá-lo e mostrar para o cliente como o veículo acaba sendo afetado.

Uma das grandes vantagens da inspeção visual feita por um profissional é permitir identificar, pela aparência da ponta da vela, possíveis problemas no motor, como excesso de combustível, infiltração de óleo na câmara de combustão, infiltração de fluido de arrefecimento na câmara de combustão e uso de combustível de má qualidade. Ou seja, a aparência da vela diz muito sobre o estado do motor, por isso deve ser priorizada em qualquer revisão preventiva”, garante o consultor da Assistência Técnica da NGK, Hiromori Mori.

Vela de ignição

Uma peça comum a todos os motores de Ciclo Otto, a vela tem a função de gerar a centelha que faz a mistura ar/combustível queimar dentro da câmara de combustão. Não existe uma manutenção preventiva específica que possa ser feita para recuperar uma parte da peça em si, mas é recomendável uma inspeção visual a cada 10 mil km, ou 12 meses, para examinar seu estado. O uso de uma vela desgastada força a bobina, o que pode reduzir a sua vida útil, assim como provocar falhas de ignição, ressalta Hiromori.

Por meio da inspeção visual, o mecânico pode identificar o desgaste dos eletrodos e a condição de queima. No caso das velas resistivas, o momento também pode ser aproveitado para medir a resistência. As respectivas tabelas com os valores podem ser requisitadas aos fabricantes, cujo contato está ao final desta matéria.

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Existem diversos casos em que o aspecto da vela denuncia problemas no motor, como veremos a seguir.

Diagnóstico de problemas em velas

Condições normais de uso

Motor em boas condições, grau térmico da vela correto e os ajustes da mistura e da ignição estão adequados. Não há falhas de ignição, resíduos de aditivos de combustível, nem de partículas de óleo no motor ou sobrecarga térmica. Sistema de partida a frio funciona corretamente.

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Fuliginosa (carbonização seca)

Causas: ajuste de mistura errado, filtro de ar muito sujo, afogador automático com mau funcionamento, afogador manual puxado por longo tempo, percursos curtos muito frequentes, vela de ignição muito fria para o motor.

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Resíduos de ferro

Causas: aditivos de combustível ferrosos, resíduos de corrosão de peças do motor / sistema de combustível.

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Resíduos de chumbo

Causas: aditivos de combustível contendo chumbo. Fuligem surge devido a uma operação do motor em plena carga após um longo período de operação em carga parcial.

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Resíduos/ impurezas

Causas: partículas de aditivos do óleo ou combustível.

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Superaquecimento

Causas: sobrecarga térmica extrema devido à pré-ignições, resíduos na câmara de combustão, válvulas defeituosas, distribuidor com defeito, combustível de má qualidade, mistura pobre, vela aplicada com torque inadequado. É possível que o grau térmico da vela esteja muito elevado.

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Eletrodos central e massa fundidos

Causas: sobrecarga térmica devido à pré-ignições, por exemplo, em virtude de ponto de ignição adiantado, resíduos na câmara de combustão, válvulas defeituosas, distribuidor com defeito, combustível de má qualidade, mistura pobre, vela aplicada com torque inadequado.

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Desgaste excessivo dos eletrodos central e massa

Causas: aditivos de combustível e óleo agressivos. Condições de fluxo desfavoráveis na câmara de combustão, eventualmente devido a depósitos, detonações no motor. Não existe sobrecarga térmica.

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Desgaste excessivo do eletrodo central

Causas: não foi respeitado o intervalo para substituição das velas de ignição.

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Mancha corona

Causas: atração e aderência de pequenas impurezas (vapor de óleo e sujeira) na região do isolador, junto à carcaça. Essa atração ocorre devido a um forte campo elétrico que é formado ao redor da extremidade da carcaça.

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Antes de instalar uma vela nova, o principal cuidado que o mecânico necessita tomar é sempre consultar a tabela de aplicação atualizada para atestar se a peça é realmente a correta para o veículo. Elas podem parecer idênticas, mas segundo Hiromori Mori, as velas para uso nos motores a etanol, gasolina e flex diferem no grau térmico, sendo que os motores bicombustível e os movidos a etanol possuem velas mais frias. Ele também detalha que o tratamento do castelo metálico (parte de metal onde está a rosca da vela) também possui a especificação alterada em alguns casos de veículos bicombustível por pedido das fabricantes de automóveis.

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Medir a resistência é uma forma de diagnóstico; valor varia de acordo com o tipo da vela

 

A regulagem da folga entre os eletrodos é outro fator importantíssimo a ser observado. Tanto as velas da Bosch quanto as da NGK saem com as folgas nominais corretas e reguladas de fábrica, mas, por precaução, o mecânico deve utilizar um calibre apropriado para verificar se o valor está correto. “Conforme a forma como é transportada até o mecânico, ou no processo de armazenagem, podem ocorrer alteração da folga específica”, argumenta o consultor da Assistência Técnica da NGK, que orienta que o mecânico a sempre conferir a folga entre os eletrodos antes da instalação. “A distância entre o eletrodo massa e o eletrodo central da vela de ignição é fundamental para a produção eficaz da faísca e perfeita combustão”, afirma Breno Cavalcanti, da Bosch.

 

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Sempre verifique as folgas das velas, mesmo nas novas: transporte e armazenamento podem alterar essa medida

 

No caso de velas de múltiplos eletrodos, muito utilizadas nos anos 90, a regulagem só pode ser feita com equipamento apropriado. “O ajuste é dificultado pela própria característica construtiva destas velas, onde os eletrodos laterais são muito grossos”, esclarece Hiromori. Segundo ele, o reparador terá dificuldade para a regulagem caso não domine o procedimento ou não possua o equipamento necessário. Um dos principais cuidados a ser tomado é manter todos os eletrodos com a mesma distância em relação ao eletrodo central, além de ser necessário utilizar um calibrador específico para velas para medir a folga, já que o calibre de lâminas não passa entre os eletrodos da vela. Por isso, caso o reparador não disponha dos recursos necessários, torna-se mais recomendável a substituição das velas.

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Torque correto na vela assegura uma boa fixação e excelente dissipação de calor

 

Na hora da aplicação, Hiromori cita outros cuidados: sempre rosquear a vela com a mão para garantir um perfeito alinhamento dos fios de rosca da vela com o cabeçote do veículo e apertar a vela com o torque correto. Breno, da Bosch, explica que dar o torque correto assegura uma boa fixação e excelente dissipação de calor. Vale lembrar que o torque excessivo na instalação causa trinca ou quebra longitudinal no isolador cerâmico. Já se o pé do isolador estiver trincado ou quebrado, a causa pode ser por impacto, queda ou pressão sobre o eletrodo central por manuseio incorreto.

Um problema que envolve velas e cabos é o Flash Over, que é a passagem de corrente elétrica entre as duas peças. A causa é a tensão de ignição extremamente alta (por desgaste elevado da vela) ou por presença de resíduos como sujeira ou água sobre o isolador, algo que pode vir de cabos de ignição de má qualidade, deteriorados ou danificados. O Flash Over causa falhas de ignição e a solução é substituir velas e cabos.

 

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Flash Over pode indicar desgaste excessivo da vela e causa falhas de ignição

 

Uma ferramenta que pode ser utilizada para o diagnóstico do sistema é o osciloscópio. Através dele, pode ser feito o monitoramento dos sinais de tensão de ignição. A leitura dos dados pode atestar que tanto a vela quanto o cabo podem estar em mau estado, além de ajudar a identificar problemas em bobinas e distribuidores. “O estado e o desgaste das velas altera muito a figura gerada na tela do equipamento”, observa Fernando Landulfo, do SENAI. Assista ao programa O Mecâniconline “Interpretando gráficos no Osciloscópio”, disponível em nosso canal no YouTube, para entender como essa ferramenta pode ser útil para o trabalho da oficina.

 

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Teste no osciloscópio mostra dados que servem para diagnosticar a saúde do sistema de ignição

 

Cabos de ignição

A função do cabo de ignição é conduzir a alta tensão gerada pela bobina até as velas de ignição, onde a centelha será gerada no eletrodo. Assim como no caso da vela, não existe um procedimento preventivo de substituição de partes de um cabo, mas sim a inspeção visual. Hiromori, da NGK atenta para o fato de que, com o aquecimento do motor, os componentes de borracha sofrem um ressecamento natural o que provoca a degradação da borracha com o tempo.

 

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Sempre desconecte o cabo da vela puxando pelo conector; nunca pelo cabo em si

 

O diagnóstico da inspeção visual é capaz de identificar sinais de Flash Over, além de oxidação nos conectores, cortes na capa de borracha dos terminais e cabos, sinais de ataque químico por vazamentos de óleo e produtos químicos de lavagem de motor e ressecamento dos fios e terminais de borracha. “Também deve se medir a resistência dos cabos de ignição, pois cada cabo possui um valor específico”, o especialista Hiromori.

Quando é necessária a troca, a primeira medida a se tomar é comprar a peça correta. “O mecânico deve consultar o manual do veículo ou a tabela de aplicação para verificar qual é o modelo correto para o motor daquele veículo”, frisa Breno, da Bosch.

 

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* Fonte: NGK

Na hora da instalação, o especialista aconselha o aplicador a organizar os cabos de acordo com seu comprimento em superfície plana e limpa. Outro cuidado a se tomar é quanto ao correto manuseio dos cabos de ignição. “Cortes nas capas de borracha podem provocar falhas de ignição, fios soltos podem provocar danos por atrito ou derretimento quando em contato com fontes de calor, a presença de vazamentos de óleo e combustível podem provocar ataques químicos à borracha, cabos mal conectados podem provocar a oxidação dos terminais dos cabos”, enumera Hiromori.

 

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Preste atenção para não tentar um encaixe torto do conector com a vela. Se forçar, pode causar danos ao conector e, consequentemente, mau funcionamento do motor

 

Para remover a peça antiga do motor, o especialista da Bosch orienta a segurar o cabo pelo conector, nunca pelo cabo, girando suavemente para desconectá-lo da vela. “Não desconecte mais de um cabo por vez e comece pelo cabo mais longo do motor, repetindo um cilindro de cada vez”, explica Breno. Se houver má aplicação do cabo, diversos problemas podem acontecer. Segundo o especialista da Bosch, um cabo de ignição danificado ou mal aplicado pode gerar problemas de interferências eletromagnéticas e/ou fuga de corrente, causando falhas no motor, consumo excessivo de combustível e problemas no catalisador.

 

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Meça a resistência para saber em que condição estão os cabos de ignição. Cada cabo possui um valor específico

 

“Não deixe de limpar conectores da vela, da bobina e da tampa do distribuidor. Verifique se há corrosão dentro das torres da tampa do distribuidor. Se houver, é necessário remover a corrosão ou trocar a tampa do distribuidor antes de continuar a instalação dos cabos de ignição”, recomenda o chefe de Marketing do Aftermarket Automotivo da Bosch. Hiromori, da NGK, ainda orienta o mecânico a não passar nenhum produto entre as velas e o cabo de ignição, já que a presença de sujeiras e resíduos podem provocar perda de isolação e facilitar a ocorrência de Flash Over.

 

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Marcas de Flash Over no cabo: causa também pode ser presença de sujeira no conector

 

Fernando Landulfo complementa dizendo que é preciso também verificar o estado da escova interna e dos contatos da tampa do distribuidor, quando houver. Da mesma forma, é necessário medir a resistência do rotor do distribuidor e verificar a sua correta aplicação. “São pontos críticos de geração de mau funcionamento do sistema”, avisa o técnico de ensino do SENAI.

Cuidados para o cliente e o mecânico

Não basta apenas orientar a fazer as revisões no intervalo correto: o mecânico tem que colocar na cabeça do proprietário que ele deve abastecer o veículo sempre com combustível de boa procedência, o que evita problemas não só para o sistema de ignição quanto para o motor inteiro. Já o mecânico tem que consultar tabelas de aplicação atualizadas, assim como as tabelas de resistência dos cabos de ignição e das velas, as quais o mecânico pode solicitar para as fabricantes.

 

fonte: http://omecanico.com.br/

 

 


 

NGK: www.ngkntk.com.br/automotivo

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